sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O País dos Loucos

O País dos Loucos

Você já visitou um hospital psiquiátrico? Mas não estou falando de um hospital particular, com toda sua discrição e assepsia. Eu me refiro aos hospitais públicos e, mais especificamente, a ala dos regredidos.

Terça-feira, 15, e Quarta-feira, 16 de dezembro de 2015 entrarão para a história do Brasil. Historiadores acadêmicos esquecerão essas datas. Mas foram dias dos mais loucos que já presenciei no país em que, como dizia o filósofo Kafunga, ‘o errado é que é o certo’.

Pela manhã do dia 15, bem cedo, lá estava a Polícia Federal e o Ministério Público Federal cumprindo mandado de busca e apreensão na residência oficial do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em Brasília. Também foram cumpridos mandados na casa e no escritório de Cunha no Rio de Janeiro e na Diretoria Geral da Câmara dos Deputados.

Renan Calheiros, presidente do Senado também foi rondado. Teori Zavascki, do STF, negou o pedido da Procuradoria Geral da República que solicitou mandado de busca e apreensão na residência do senador pelo PMDB-AL. Porém, o STF autorizou buscas em endereços de pessoas ligadas a Calheiros .

Endereços de vários outros deputados, senadores e ministros de estado também foram alvo de buscas e apreensões, notadamente Celso Pansera, ministro da Ciência e Tecnologia e Henrique Eduardo Alves, ministro do turismo. A ação, batizada de Catilinárias, faz parte das investigações da Operação Lava Jato.

Como Eduardo Cunha, um político que vem sendo desmascarado e mostrado à população como um dos mais nocivos ao nosso país, está em uma guerra pessoal contra a presidência da república, recebi várias postagens de amigos petistas comemorando as operações de buscas. Invariavelmente, as postagens continham vídeos do site G1, das Organizações Globo, do jornalista Ricardo Boechat, da Band e, em número muito menor, do site do jornal Estado de São Paulo, o ‘Estadão’.

Como não tenho opção partidária e nem ideologia, acompanhei esses ‘posts’ com muita curiosidade, mas sem nenhuma surpresa. Ora, a Globo e seu canal de tv à cabo GloboNews, mesmo tendo feito longas e corretas reportagens sobre as buscas, são historicamente criticados por 100% dos petistas e não deveriam ser usados em postagens destes, pois, de acordo com os ‘esquerdistas’, as citadas mídias são golpistas. O mesmo vale para Boechat, que já foi muito criticado por petistas e também para o Estadão, chamado de ‘direitista’. ‘Mesdames et Messieurs’, sejam ‘élégants’. Não ajam de forma hipócrita, ‘s’il vous plaît’! Procurem outras fontes para seus ‘posts’!

Alguns conhecidos meus escreveram em suas postagens que só confiariam na Lava Jato se essa prendesse políticos do PSDB. Gostaria de informar-lhes, sem nenhum amor aos social-democratas tucanos, que o problema aí é cronológico. Temos que fazer uma viagem no tempo para chegar ao último governo de FHC, em 2002. 2002! Ainda não há disponível parâmetros oficiais para dizer-lhes sobre os atos corruptos de governos passados, que creio terem ocorrido. A operação Lava Jato se concentra nos fatos possíveis de investigação, ou seja, a corrupção absurda, destrutiva e irresponsável da administração petista, comandada por seus principais caciques, muitos já presos. A quantidade de informações e gente envolvida é tão grande que, até chegarmos em 2002, em 1998 ou antes, vai demorar um tempinho bom. Gostaria muito que isso também ocorresse. Mas até lá, o glúten já vai estar liberado pelos médicos e nutricionistas, salvo em caso de alergias.

Mas não se desesperem! Políticos do PSDB já começaram a ser presos também! Quando conversava com ‘esquerdistas’ sobre o mensalão petista, que teve números altíssimos de desvio de dinheiro e dimensão federal, logo escutava a pergunta: ‘e o mensalão tucano?’, como se eu fosse partidário do PSDB. Como foi impossível comunicar-me de forma oral com aqueles petistas, recorro à forma escrita para responder-lhes agora, caso queiram ao menos ler, é claro: Por mais nocivo que possa ter sido o mensalão tucano, ele foi regional, voltado para a reeleição de Eduardo Azeredo a governador do Estado de Minas, que ele não ganhou. Existe um ‘Grand Canyon’ entre um caso e outro. Não vou entregar-lhes de bandeja qual foi o verdadeiro mensalão tucano, pois não acuso ninguém e nenhuma instituição sem provas documentadas e já me bastam suas chatices cotidianas.

Ainda sobre Azeredo, faço meu comentário particular. O conheci pessoalmente em um encontro formal na cidade do Rio de Janeiro. Educado, sereno. O agradeci por ter nos proporcionado, quando prefeito de Belo Horizonte, maravilhosos espetáculos de música erudita, muito variados, de forma gratuita, no Teatro Francisco Nunes, todos os domingos às 11h da manhã. Naqueles concertos havia pessoas de todas as cores e classes sociais. Guardo muitas daquelas exibições como fonte de inspiração artística até os dias de hoje. A valorização da cultura era muito importante em sua administração. Triste fiquei com as notícias de seu envolvimento nos crimes de peculato e lavagem de dinheiro. De forma diferente dos que defendem cegamente políticos vergonhosos como Genoíno e Zé Dirceu, acato a decisão da justiça. Azeredo deve pagar pelos seus crimes. Mas, somente como informação, a condenação foi em primeira instância, cabendo recursos.

A Globo realizou uma ampla cobertura do julgamento. A experiente repórter Isabela Scalabrini foi escalada para a reportagem. Petistas novamente utilizaram links do site G1 da Globo para divulgar a notícia. Caros amigos, vocês não a chamam de ‘Grobo’? E ela não faz só ‘reporcagens’? (?!)

Mas a quarta-feira ainda reservava algumas surpresas. Lula prestou depoimento, na condição de informante, dentro do principal inquérito da Operação Lava Jato. A cobertura da imprensa foi ridícula. Os telejornais dedicavam 15 segundos ao fato, por demais histórico, pois sabemos que Lula está sendo rondado pela PF. O senador Delcídio do Amaral (PT-MS), preso pela Lava Jato, resolveu negociar uma delação premiada, após ser apresentada a ele uma declaração de Lula, que, durante um almoço na sede da CUT, chamou de ‘coisa de imbecil’ o ato que culminou na prisão de Delcídio.

E as manifestações a favor da Dilma. Pão com mortadela, transporte, camisetas e bonés fornecidos por partidos de ‘esquerda’, CUT e outros. Isso me faz lembrar dos ‘coronéis’ que, em época de eleição, enchiam (e ainda enchem) seus caminhões com gente humilde, dando algum alimento e alguns ‘espelhinhos’ (ops! ‘Espelhinhos’ eram para os índios) para que esses votassem nos próprios ‘coronéis’ ou em seus candidatos.
Estimativa total dos manifestantes em todo o Brasil: 98 mil pela Polícia Militar e 292 mil pelos organizadores. Ridículo! Quando ainda acompanhava futebol, fui a um jogo do Flamengo, no Maracanã. Tinha uns 150 a 180 mil torcedores. Zico levava mais gente, pagando ingresso, em 1 ou 2 jogos, em uma só cidade, do que a Dilma em todo o Brasil para manter seu cargo de presidente.

Seguindo na quarta-feira (Ufa!), a Fitch, agência de classificação de risco, rebaixou a nota do Brasil e tirou o grau de investimento do país. É mais uma coroação de um governo incompetente, bagunçado e desrespeitoso para com os cidadãos de todas as classes sociais.

E ainda ocorreu o início do julgamento do STF sobre o processo de ‘impeachment’ da presidente Dilma. O ministro Fachin, indicado por Dilma e defendido por Álvaro Dias (PSDB), foi, de forma honrada, isento e deu se parecer como relator. Foi derrotado na quinta-feira, mas esse dia fica para depois. Dilma foi defendida pelo PCdoB. Pode-se imaginar, em 2015, que um partido desses, com ideias tão atrasadas, possa ter tanta força? Coisas de Brasil.

Para completar, às 0h de quarta para quinta-feira, sai do ar o aplicativo Whatsapp. Coisa meio chinesa, meio cubana, ‘cheirando’ censura. Cabe ainda comentar sobre os motoristas de taxi, que vêm abordando motoristas do Uber, dando-lhes surras estilo Daesh (estado islâmico). Os mesmos taxistas devem também concordar com a proibição do uso do Whatsapp, não é? As operadoras de telefonia, que reclamam do aplicativo, mas oferecem serviços ruins e caros, fazem parte da loucura chamada Brazil.

Voltando ao meio político, todo mundo esteve na roda: Dilma, Cunha, Calheiros, Azeredo (lê-se PSDB) e Lula. Estou certo que este último é o grande responsável pelo Brasil de hoje. Espero que a justiça possa julgá-lo e, caso apresente provas claras, condená-lo, seja aqui ou no exterior.

 Opa! Faltou o Temer. Mas, sua cara de mordomo de filme de terror (segundo o historiador Marco Antonio Villa) já apareceu muito nesses últimos dias. O mordomo é sempre o culpado? Nem sempre, mas pode ser.

Após esta fase de esclarecimentos, em 2016 começarei a apresentar como vejo os caminhos para as soluções de nossos problemas. Não basta só reclamar, pois, no Brasil real, o buraco está aumentando e os políticos jogando dama. Não jogam xadrez, pois seria muita exigência para a pouca inteligência deles.

Para encerrar, apresento trecho de um dos discursos do cônsul romano Cícero contra o senador Catilina, que inspirou o nome da Operação Catilinárias:

“Até quando, Catilina, abusarás
da nossa paciência?
Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?
A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?”

Caros amigos, espero que o futuro não pertença aos loucos.

Muito obrigado pela leitura.
Ernesto Abreu Valle

O País dos Golpes

O País dos Golpes

Caros amigos,

Com o passar dos anos, quase nada é surpresa para mim. Ignorando conceitos, cortando ilusões, procurando o equilíbrio e a justiça em atos, pois eles são o chão que me sustenta, verifico o lento caminhar de nosso país, muitas vezes para trás.

Porém, triste fico, mas sem achar que é uma novidade, ao ver tão queridos amigos e pessoas muito próximas em defesa deste ou daquele político, ou deste ou daquele partido.

O Brasil vive de golpes, curiosamente por meios institucionais.

O golpe republicano já completou 126 anos. E, com suas várias facetas, permanece firme, sempre se protegendo aqui e acolá.

Em 1930, Getúlio tomou o poder com as armas. Ficou 15 anos dando suas ordens. Fez muitas besteiras. Mesmo assim, foi eleito 5 anos depois e continuou com suas bobagens até se matar, em um último ato de imbecilidade.

Após a renúncia de Jânio Quadros, um louco até na forma de olhar e falar, o país entrou em uma crise que desencadeou no golpe civil militar de 1964. Foram 21 anos de governo autoritário, conduzido com pouca Inteligência e muita truculência. A rima pobre é proposital. E ainda há idiotas que defendem um novo golpe militar.

Depois do Sarney, Collor foi eleito. Golpe? Mais ou menos. Prometeu pouco, cara de louco, olhar de maluco. Só gritava e falava que era ‘caçador de marajás’. Os outros candidatos também prometiam pouco. Dizem que a Globo editou o debate final e isso o levou a vencer Lula. Acredito na história da edição, mas Lula não tinha chance. O povo, muito conservador, não lhe daria o poder naquela hora.
E o Collor também sofreu seu golpe. Golpe? É, golpe. Saída institucional, com apoio do povo etc. Mas o golpe de 64 também teve amplo apoio popular. Até hoje não ficou claro para ninguém o que o Collor fez para sair. Escrevo isso ao comparar com as besteiras que outros presidentes depois dele também fizeram e se mantiveram no cargo. A tão criticada revista Veja, chamada hoje em dia de ‘direitista’, apoiou amplamente o ‘impeachment’, em edições esgotadas nas bancas. Mas a saída daquele insano fez muito bem ao país. Sua eleição foi a marca de uma sociedade ainda doente e muito aristocrática.

Depois tivemos o Golpe FHC. Na sua eleição, não tivemos muitas novidades. Ministro da fazenda de Itamar Franco durante a criação do Plano Real, do qual não participou, pois não sabe nada de economia, ficou fácil para ele. Mas, no meio do seu 1º mandato, criou a reeleição em benefício próprio. Lembro que até Roberto Carlos apareceu no programa do Faustão para defender a reeleição, respondendo a uma pergunta direta do apresentador. Mais direto, impossível. FHC, sociólogo de araque, jogou todas suas teses fora. Deveria ter perdido seus títulos acadêmicos. E fez um péssimo 2º mandato, entregando o país de bandeja para o Lula.

E era o momento do Lula. Aguardado pela chamada ‘esquerda’ brasileira. A Globo cumpriu sua promessa, feita após o debate com Collor (o que dizem ter sido manipulado). Disse Cesinha, um dos fundadores do PT e respeitado militante das causas sociais, em entrevista a Zuenir Ventura, que Lula lhe confidenciou ter ‘deitado' vários litros de uísque com a direção da Globo, após sua derrota na eleição de 1989. Para quê? Saberíamos anos mais tarde.

A campanha de Lula teve uma excelente cobertura da mídia. Quem o elegeu foram os 30% de ‘eleitores históricos’ do PT e uma grande quantidade de pessoas, muitas conhecidas minhas, não eleitoras de Lula, que compraram a ideia da ‘mudança’. E o toque final da Globo? Bem, no último dia de comícios pelo Brasil, no Jornal Nacional, muito bem assistido pelos brasileiros, que ainda não possuíam ‘smartphones’ e facebook, sai do banheiro, amarrando o cinto após fazer seu xixi, o ‘operário', ‘simples’ cidadão brasileiro, que sofreu e venceu’(Ê Duda Mendonça!!). Saiu do JN eleito. Golpe? Mais ou menos.

Lula, 2º Mandato e Dilma, 1º Mandato. Golpe? Bem, Lula e Dilma surfavam na onda da China (Ver meu segundo texto sobre a queda da barragem em Mariana). Mais ou menos como no Plano Real, o pleno emprego gerou satisfação na população, que ignorou o terrível destino do país. Poucos investimentos em infraestrutura e educação. Cuidado com o meio ambiente: Zero. Bem, mas nesse último tema nem todo mundo é D. João VI, que replantou uma floresta inteira.

Aí vem o Golpe! Talvez o mais avassalador dos últimos 50 anos. Dilma maquiou a situação econômica do país. Ela estava exausta durante o processo eleitoral. O que precisava falar, como ‘soldada de suas ideologias’, a dilacerava por dentro e por fora. Muito mais solto e sem se preocupar com as muitas acusações sobre ele, Aécio, que não quero aqui defender e chamá-lo de mocinho (longe disso, pois não transmite confiança) foi muito mais eficaz nos debates. Mas o povo, sempre conservador, tinha medo das mudanças tão necessárias para que o pais caminhasse.

Dilma prometia continuação. Logo após sua eleição anunciou vários aumentos, alguns altíssimos. Os reajustes dos vários subprodutos do petróleo e da energia e outras dezenas de problemas fizeram com que a inflação atingisse, agora no acumulado dos últimos 12 meses, em uma visão conservadora, os dois dígitos. Este foi seu golpe. Mas não um golpe no PSDB. Este foi um duro golpe em todos nós. Para que eu não possa ser chamado de mentiroso, há um vídeo do Lula confirmando toda a história. Fala demais.

Agora estamos em vias de um novo golpe. Cunha, Temer, Lula, todo mundo de olho aberto, esperando sua oportunidade. Lula? Ora, quem derrubou o senador Delcídio no senado, com aquela desastrosa nota do PT, abandonando o aliado fidelíssimo. Quem manda no PT? O povo não tem memória e pode votar no Lula do mesmo jeito que votou no ditador Getúlio em 1950. Curiosamente, Lula acaba de ler a biografia de Getúlio Vargas. Disse isso em entrevista a Roberto D’Ávila. Mas do jeito que as coisas estão, o PT pode não chegar com força em 2018. Então, melhor a Dilma fora. Já está se formando uma chapa: Lula – Presidente e o 'almofadinha' Ciro Gomes – Vice. Pode esperar.

E o PSDB, tão criticado por amigos meus e pessoas próximas como sendo o ‘golpista’, está dividido. Seus caciques pensam e agem assim:
Geraldo Alckmin, governador de São Paulo. Ele é o que pode ser considerado o mais ‘direitista’ de todos. Apoia Dilma. A chama de ‘presidenta’. É a favor da conclusão do mandato da presidente.
José Serra, senador. Apoia o ‘impeachment’ de Dilma e defende Temer como seu sucessor.
Aécio Neves, senador. O mais desorientado de todos. Atira para todos os lados. Mas, na verdade, quer que a chapa Dilma-Temer seja cassada em julgamento no TSE.
Fernando Henrique Cardoso, à toa. Continua um sujeito elegante, mas cada hora fala uma coisa diferente. Não sabemos ao certo sua opinião.
Sobra para nós o mais duro golpe de todos. Ter que conviver com esses políticos todos, que pensam somente em seu mundinho imbecil. E ainda tem gente que os defende.

Muito obrigado pela leitura.
Ernesto Abreu Valle.