Como amplamente noticiado, Chuck Berry faleceu ontem, 18 de março de 2017, aos 90 anos.
Elvis era o branco que gostava de blues, a música dos negros mais pobres. E Chuck era o negro que gostava de country, a música dos brancos chamados, de forma pejorativa, de 'white trash', ou 'lixo branco'.
Pois bem, Chuck rompeu todas as dificuldades, com sua elegância, inteligência e carisma.
Politicamente incorreto foi, dentre os criadores brancos e negros do Rock'n'Roll, o mais puro compositor desse estilo, falando sempre de temas do cotidiano, o que refletia seu pragmatismo.
Morreu sem ter a noção correta de que influenciou profundamente nossa civilização.
Na música, além de criar o único estilo popular que é reproduzido pelos quatro cantos do mundo, ainda resgatou a figura do trovador medieval. Antes de Chuck, havia a clara separação entre compositor e cantor. Depois dele, tudo isso mudou.
Se você ainda torce o nariz para o Rock, desculpe amigo, está atrasado 60 anos. Jogue seus jeans e calças pretas apertadas pela janela. Não use roupas despojadas mais. Gírias descoladas, esqueça-as! O negro, ou gay, ao seu lado, na orquestra em que você toca, ou no escritório em que você trabalha, por exemplo, deveria ser, para você, uma ilusão. Também, depois do rock, ninguém precisa mais ser velho, só se quiser, e a liberdade é o maior presente que recebemos desse movimento.
E não são três acordes, é uma música de uma simplicidade complexa que, se você jamais tocou, não conseguirá tocar sem se dedicar. Para tocar Rock'n'Roll, com cordas dobradas, 'bends' e outras técnicas, além do improviso, tem que trabalhar pesado. Não é fácil!
Vindo de uma geração que acompanhou as bandas de Progressivo, Hard e Heavy Rock, sempre agradeci aos irmãos mais velhos de amigos e aos meus pais por me posicionarem em relação à genética do Rock. E, com muito espanto, até hoje fico boquiaberto com o fato de muitos amigos músicos, que tocam rock, não conhecerem o trabalho dos criadores do gênero.
Chuck se apresentou duas vezes em minha cidade, Belo Horizonte. Não me recordo por que motivo, mas não pude ir à primeira apresentação. E escutei, sobre ela, um comentário de um músico de BH, na televisão: 'Foi legal assistir àquele velhinho, todo animado, tocando!'. Achei que havia um certo desprezo em seu comentário. Bem, alguns anos depois, não perdi a segunda oportunidade! em 21 de agosto de 2009, perto de completar seus 83 anos, lá estava Chuck, não um 'velhinho', não mesmo! Coluna reta, carregando sua pesada guitarra no ombro, caminhando por todo o palco, deu umas agachadas e ainda fez um pouco da sua tradicional 'Duck Walk'. Show curto, mas suficiente! O homem estava alí, tocando sua guitarra e cantando seus clássicos!
Hoje gostaria de publicar uma profunda declaração de Chuck sobre o preconceito racial e sobre a liberdade de expressão, antes de seus dois concertos no Fox Theatre, em St. Louis, Missouri, para o VHS (hoje em DVD) Hail! Hail! Rock'n'Roll, de 1987.
E, na sequência, Roll Over Beethoven, para ficar com Chuck na sua máxima essência, comunicando a Keith Richards, que produziu o show, uma mudança de tom no meio da música, levando o 'Rolling Stone' ao desespero!
Você não morreu Chuck! Está em cada célula de nossa cultura e mudou nossa era para sempre!
Muito obrigado!!
O material foi utilizado somente com o objetivo de ilustrar uma mensagem e homenagear Chuck Berry.