sábado, 27 de outubro de 2018

O Medo e... O Vento



“– Olhe, senhor, aqui não há encanto nem alguma coisa que se assemelhe a isso; eu vi entre as grades um leão verdadeiro, maior que uma montanha!
– O medo – respondeu Don Quixote – fará com que ele pareça maior que o mundo!”
(Adaptado de ‘Don Quijote de La Mancha’, de Miguel de Cervantes)

Caros amigos,

Havia muitas opções. Candidatos liberais, socialistas, de centro, uma mais voltada para os temas de sustentabilidade.

Mas, não. Infelizmente, a maioria das pessoas abandonou o bom senso já no primeiro turno e, por medo de um extremo ou de outro, nos ofereceram a situação atual: decidir entre radicais.

Discutir se é mais provável o PT nos transformar em uma Venezuela de Chávez ou Bolsonaro nos levar a ser um Chile de Pinochet é improdutivo, pois os dois candidatos a presidente e/ou seus partidos têm, em seu currículo, discurso e atitudes muito antidemocráticas. Antes e durante a campanha de 2018 isso ficou muito claro.

Em muitos momentos houve um recuo estratégico, um direcionamento para o caminho do meio. Mas, como não dá pra carregar água com a peneira, e muito menos esconder o sol com ela, vídeos, cartas e outros documentos com declarações tolas, muitas delas previsíveis, sempre surgiram, mesmo e, principalmente, nesta semana.

Mas, como Jair Bolsonaro, um homem do sistema, pois está nele há quase três décadas, sendo um profissional de carreira na política, conseguiu se colocar como uma opção à ‘velha política?’


Seu eleitorado era inicialmente composto pelos bobalhões de sempre: homens machistas, com caras de tolos, rindo de qualquer besteira e com ideias retardadas. Muitos deles são, como eu chamo, ‘reacionários suburbanos’. Depois, após o crescimento de Haddad nas pesquisas, foram se juntando aos eleitores de Bolsonaro os desesperados antipetistas xiitas e sunitas. Após, os que se consideram liberais econômicos (sem normalmente ter noção do que se trata). Estes abandonaram seus candidatos e, de forma irracional, votaram em massa em Bolsonaro no primeiro turno, quase o levando a uma vitória já na primeira fase das eleições.

E por que uma figura inexpressiva, sem nenhum carisma, como Fernando Haddad, que foi um prefeito ruim para a cidade de São Paulo, conseguiu chegar ao 2º turno para presidente?


A militância petista constitui a primeira camada de seu eleitorado, é claro. Um conjunto de pessoas curiosamente cegas, surdas e inconsequentes, que acham que nada, absolutamente nada foi feito de errado pelo PT nos últimos anos. Como disse a escritora Eliane Brum, do periódico progressista El País Brasil: ‘(O PT) se corrompeu no poder e se aliou ao que havia de mais nefasto na política nacional. E sofrerá também porque o PT fez tudo isso e nenhuma autocrítica. Nem uma autocrítica bem pequenina, uma autocriticazinha. Nada que mereça esse nome’.

A segunda camada, principalmente nesse segundo turno, se constitui de pessoas que temem um retrocesso em relação aos direitos humanos, às conquistas de minorias e ao cuidado com o meio ambiente.

O PT tentou também se posicionar como defensor da democracia, mas não deu muito certo. O radicalismo dos últimos anos, ilustrado com vasto material que disputa no nível mais baixo com o do Sr. Bolsonaro, não dá para esconder.

Como disse Fernando Gabeira, em recente artigo, eu também creio que pode haver uma diminuição da qualidade de nossa democracia.

Apenas, como um dos exemplos de poucas ideias democráticas, vamos aos ídolos dos candidatos.


O ídolo do Sr. Bolsonaro é o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, cujo sobrenome ridículo poderia ser motivo de piada caso este não fosse uma figura negra de nossa história. Ele foi acusado de ser um contumaz torturador enquanto chefe do DOI-CODI do II Exército (de 1970 a 1974), um dos órgãos atuantes na repressão política, durante o período da ditadura militar no Brasil. Os depoimentos contra Ustra são muitos e revelam um lado triste do país. Um presidente da república ter o coronel Ustra como referência é um absurdo, é imoral.

Fernando Haddad, o candidato do PT, não deve ficar longe em termos de ídolo. Pela idade, 55 anos, e formação marxista, deve ser igual a todo mundo da turma ‘comunista caviar’ de sua geração. Acredito que tem como herói o ex-ditador cubano Fidel Castro, responsável, dentre outras barbáries, por fuzilamentos de críticos ao regime político da ‘sua’ ilha. Também é absurdo, é imoral um presidente da república ter o senhor Castro como referência

Ustra e Castro já faleceram. Como dizia, com muita propriedade, meu velho pai: ‘Caíram igual a uma pedra no inferno!’. E eu completo: ‘o diabo deve estar tentando se livrar deles, desesperadamente’.


Sou um viajante no tempo e vivi para ver, escutar e ler coisas muito estranhas durante a campanha eleitoral de 2018. Fui lentamente fazendo uma análise dos discursos das pessoas, de sua raiva, de suas desculpas para votarem em candidatos tão fracos, despreparados, pífios mesmo.

Em uma posição totalmente indecisa, um amigo, que usualmente é ausente das redes sociais, está fazendo tratamento psicológico gratuito via internet, mudando de voto a cada 12 horas. E não é o único.

Em relação às pessoas favoráveis à Haddad, testemunhei, por exemplo, o caso de uma amiga, que, ao contrário da época do impeachment da presidente Dilma, quando estava inflexível, compartilhando vídeos anti PT a toda hora nas redes sociais, publicou em uma destas, nesses dias, um artigo do periódico Carta Capital, jornal conhecidamente favorável ao PT. Ela, sendo homossexual, teme por um governo Bolsonaro.

Outra amiga, esta da militância petista, que sempre criticou a jornalista Miriam Leitão, compartilhou nas redes sociais, declaração desta sobre o fato do PT ser democrático. Bem, segundo essa amiga, a Globo, a GloboNews e grande parte da imprensa nacional são mídias golpistas.

Um amigo, que conheço bem, incapaz de jogar papel no cesto para papéis recicláveis em sua residência, publicou textos a favor do meio ambiente. Também, era um antipetista atuante.

Abaixo uma edição das publicações mencionadas, preservando a identidade das pessoas.


Claro que não dá deixar de fora o pessoal que, literalmente, saiu do armário, favoravelmente a Bolsonaro. Teve de tudo: monarquistas e liberais em geral, que pouco ou nada conhecem da história do Brasil e do que é ser liberal. Ainda no primeiro turno, publicaram a tal da ‘transferência direta', de ‘Amoêdo para Bolsonaro’, ou seja, do PSDB Personalité para o ex nacionalista, agora liberal. E uma das publicações vinha acompanhado da frase: ‘Primeiro a ordem, depois o progresso’. Bem facistóide, não é?

Tudo bem, até entendo o desespero que possa gerar a possibilidade de um retorno do PT ao poder. Mas precisa tratar Bolsonaro como um deus? Uma amiga recentemente movimentou muita gente em torno de um projeto ambiental, que pouco me convenceu, pois estava claro que se tratava da defesa do ambiente ameaçado próximo à sua residência. Nunca soube dela atuando em outro projeto antes daquela ocasião. E veio agora com a frase na capa de seu perfil em uma rede social: ‘Eu faço campanha de graça’, gerando revolta de alguns companheiros de sua ‘luta ambiental’.

Uma das pessoas que mais me chamaram a atenção foi um antigo conhecido, com quem tenho contato muito distante. Médico, cirurgião, profissional bem colocado em sua área de atuação, benquisto entre as pessoas, mostrou um comportamento tão reacionário que me fez pensar qual seria sua atuação na Alemanha da 2ª.Guerra. Dele preservo as publicações, pois meus comentários são muito duros.

Fiz abaixo uma edição das duas primeiras publicações mencionadas, também preservando a identidade das pessoas.


E sobre a hipocrisia? Está sempre presente em eleições, é claro. Mas não dá para deixar passar alguns poucos exemplos.

A dupla Haddad e Manuela. Que cara de pau! Compareceram a uma missa em uma igreja na zona sul de São Paulo. Bem, creio que um não cristão possa fazer isso, participar de evento em um templo cristão e acompanhar a cerimônia. Mas, fica claro o antagonismo católico-evangélico nessa reta final. E marxistas, como sabemos, são tradicionalmente ateus. A Manuela já declarou ser ateia. E receber a comunhão é, como dizia um amigo, ‘meio muito’.

E faltou óleo de peroba para o PT mesmo. Em um vídeo da reta final de campanha, um jovem pardo se aproxima da urna e, por sua mente e, depois, pela mente de outras pessoas, passam reflexões sobre o que seria votar em Bolsonaro. O vídeo prossegue citando alguns pontos positivos de Haddad e, em um determinado momento, uma senhora, fazendo uma fisionomia como que pensando ‘eu tenho poder’, solta a frase: ‘Se fizer besteira a gente tira’. Ora, pois, impeachment parou de ser golpe? Segundo o PT, o povo não teve nada a ver com o impeachment da Dilma (só do Collor). De acordo com os políticos do partido e a militância, o impeachment foi um golpe de estado. E se Haddad for incompetente, teremos outro golpe de estado? E aprovado pela campanha publicitária do PT?


Bolsonaro tampouco fica atrás. Deu muitas recuadas nas suas declarações. Mas todo mundo sabe o que ele pensa. O material, principalmente em vídeo, é farto.

Os evangélicos e espíritas que votarem nele sabem que estarão dando um cheque em branco para uma pessoa que joga o mandamento de Jesus no lixo. Em João, capítulo 15, versículo 12, do novo testamento (a bíblia cristã), diz Jesus: ‘O meu mandamento é este, que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei’. Também cabe citar o 6º mandamento (dos famosos 10) que, segundo a tradição judaica, o deus dos hebreus transmitiu a Moisés. Êxodo, capítulo 20, versículo 13: ‘Não Matarás’.

Sem esquecer do discurso repugnante do dia 21 de outubro passado, cheio de ódio, transmitido ao vivo para uma Av. Paulista em puro estado de fanatismo, gostaria de citar duas declarações anteriores do Sr. Bolsonaro:

Durante o programa Câmara Aberta: ‘(...) E fazendo um trabalho que o regime militar não fez, matando uns 30 mil!’

Durante palestra na Hebraica-Rio: ‘Se depender de mim, todo cidadão vai ter uma arma de fogo em casa’.

A seguir estão as fotos dos vídeos que são facilmente encontrados na internet.


O certo é que, como pesquisador, acompanhei o desespero das pessoas que, infelizmente, pensam que redes sociais são seus periódicos diários e que nós somos seus assinantes. Uma frase, normalmente atribuída a Florian Bernard, resume bem isso: ‘As mentes pequenas acham que têm (...) a concessão para falar e não dizer nada’.

Concluo relatando que minha constatação foi que a palavra que mais escutei foi... medo. Sim, há uma parte das pessoas, a base dos candidatos como acima mencionei, que votam com convicção. Mas, a maioria das pessoas, as que vão dar vitória ao novo presidente, garantirão sua faixa elegendo-o baseando-se em... medo! O que mais observei foi uma sociedade doente, desprovida de sanidade mental.

O mundo gira, o tempo passa, e novas ‘verdades’ surgem. Outrora poderiam parecer estranhas. Mas assim é a vida entre os seres humanos.

E o vento pode sempre mudar sua direção. Aceitar como natural é, às vezes, imprescindível. Tanto quanto lutar por uma vida melhor para todos os cidadãos.

Muitas vezes temos que lembrar de um dos versos do Tao Te Ching, que conclui com: ‘(...) nada se faz, mas nada deixa de ser feito’.

Franklin D. Roosevelt, presidente americano que conduziu os Estados Unidos após a grande depressão do final dos anos 1920 até quase o final da 2ª. Guerra, afirmou: ‘Não há nada a temer, a não ser o próprio medo’. O medo não pode ser motivo para a tomada de nossas decisões. Prudência, sim. Medo, nunca.

E, apesar de continuar achando improdutiva a questão se é mais provável o PT nos transformar em uma Venezuela de Chávez ou se Bolsonaro nos conduzirá a ser um Chile de Pinochet, caso queiram saber o que penso, eu acho pouco provável as duas possibilidades.

Digo-lhes que as tão faladas instituições podem ajudar, mas o que nos salva é o que mais nos atrapalha: a nossa bagunça. Esta certamente será tema para outro artigo.

Porém, sempre me lembro de uma frase de Zbigniew Brzezinski, diplomata e cientista político americano, de origem polonesa, que disse certa vez: ‘Você nunca deve subestimar a estupidez do ser humano’.

Desejo-lhes uma boa votação. Não direi que espero que o melhor entre os piores vença, pois, dessa vez, tenho a convicção que essa figura não existe.



domingo, 21 de outubro de 2018

Em Tempos Difíceis...


A cultura não é propriedade de uma vertente política radical.
E muito menos será despedaçada por outra tão radical quanto.
Os artistas cujas mentes não estão aprisionadas por ideologias estarão sempre alertas.

A Change Is Gonna Come,
Composta e interpretada por Sam Cooke.



Your Song,
Composta e interpretada por Elton John.



Fogo e Gasolina,
Composta por Pedro Luís e Carlos Rennón e iterpretada por Roberta Sá.



Starman,
Composta e interpretada por David Bowie.



Respect,
Composta por Otis Redding e interpretada por Aretha Franklin



Alfonsina y El Mar,
Composta por Ariel Ramírez e Félix Luna e interpretada por Mercedes Sosa.



The Great Pretender,
Composta por Buck Ram e aqui interpretada por Fred Mercury.