quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

O Céu... e O Mundo São Azuis

Altar da Paz é uma das mais lindas obras da artista plástica Rachel Roscoe, pintura pela qual ela mesma tem um carinho especial. Assim ela escreveu sobre a obra: “Devido à sua grande dimensão, 235 x 145, ao nos aproximarmos da mesma podemos nos sentir praticamente dentro dela. Sempre faço o exercício de me projetar na arvorezinha branca que caminha em meio à vastidão azul. Sinto uma paz acolhedora e daí o título.”

Outro dia conversei com a pintora sobre algumas de suas telas. Na noite seguinte à nossa conversa, tive um sonho no qual ela me mostrava alguns de seus quadros. E se deteve especialmente no Altar da Paz.

Claro que não compreendemos tudo do mundo dos sonhos. Mas, como antes havia pedido sua autorização para deixar uma foto desta obra na tela do meu computador, isso pode ter me inspirado durante a noite.

Sempre que a imagem entra na tela, sinto realmente uma paz muito grande, logo de manhã cedo. E cada vez que a vejo, ao ‘abaixar’ os programas abertos e o navegador, uma energia muito positiva chega até mim, sem filtro.

E há sempre momentos que busco ver a imagem desta pintura (que, é claro, não substitui a experiência de ver a obra original) só pra admirá-la e meditar. 

Não gostaria aqui de falar sobre detalhes técnicos ou tentar explicar a obra ou algo parecido.

A magia dela deve ser preservada, a ligação com o mundo dos sonhos da artista. A forma como ela visita este universo encantado certamente lhe inspira de forma diferente. Percebo como ela dá vida aos seus sonhos em suas pinturas.

O poeta Ferreira Gullar assim disse, em entrevista ao diretor Zelito Viana: “O pessoal diz que a arte revela a vida. É mentira. A arte não revela a vida. A arte inventa a vida! A noite estrelada de Van Gogh só existe na tela dele. Ele não está revelando (nada). A noite que existe no cosmo é outra coisa. Ele criou uma noite que só existe na tela dele. Então ele acrescentou, aos bilhões de noites, uma que só existe ali!”

Rachel acrescenta, para nós, lindas imagens, que só existem no seu mundo de sonhos. Ela disse, em uma recente Live, sobre o Altar da Paz: “Ele retrata muito essa questão da paz interior. Para mim, é o céu. Se eu pudesse retratar o céu, seria isso. Ele todo em tons de azul.”

Sobre os tons, sei que ela tem acesso irrestrito ao mundo das cores, muitas das vezes das suas próprias cores.

O azul pode estar associado a vários estados e sensações. Mas, no Altar da Paz, fica marcante, para mim, a tranquilidade e a harmonia.

O equilíbrio entre as tonalidades, ao fazer uma analogia com a música, é como se ‘escutássemos’ várias melodias interdependentes, um contraponto, muito além de acordes, que são notas tocadas ao mesmo tempo ou em uma sequência perceptível.

O cosmonauta soviético Yuri Gagarin, em abril de 1961, tornou-se o primeiro homem a chegar ao espaço sideral, consagrando a frase: “A Terra é azul. Como é maravilhosa, incrível!”

Ao me lembrar dessa frase, eu me recordei de uma linda música da banda inglesa Moody Blues, Blue World, Mundo Azul. Assim é o refrão, no original (inglês) e traduzido para o português:
It’s a Blue World (É um mundo azul)
It Takes Somebody to Help Somebody (É preciso alguém para ajudar alguém)
It’s a Blue World (É um mundo azul)
It’s a New World (É um Mundo Novo)
It Needs Somebody to Love Somebody (É preciso alguém para amar alguém)
It’ s a Blue World (É um mundo azul)
(No final, um vídeo da música)

Devemos agradecer por estarmos no mesmo mundo com uma artista tão talentosa, criativa e original.

Muito obrigado, Rachel, por nos permitir conhecer um pouco de seus maravilhosos sonhos!

Neles, O Céu é Azul. E o Mundo também pode ser!


 



domingo, 13 de dezembro de 2020

Magos, Gurus, Mitos, Semideuses & Justiceiros

  

“Ervas daninhas arruinam campos

Ignorância arruína a humanidade
Presentes concedidos a quem está livre da ignorância
Traz grandes recompensas”
(O Damapada, Capítulo 24, verso 25)

Eu não gostaria de escrever sobre os Magos, Gurus, Mitos, Semideuses e Justiceiros de nossos dias, para não ativar sentimentos enervados. Porém, eles serão fáceis de ser identificados durante a leitura.

Gostaria sim de lembrar figuras de nossa história, algumas mais recentes e outras de outrora, que convenceram centenas, milhares e, por vezes, milhões de pessoas a cegamente seguirem suas maluquices e muito danosas ações.

O Rei James IV da Escócia trouxe o melhor da Renascença europeia para aquele país. Artistas, poetas, músicos, cientistas, diplomatas, dentre outros. John Damian era seu alquimista pessoal. Suas experiências públicas eram sempre apoiadas pelo seu ‘padrinho’.

A mais famosa foi sua tentativa de voo partindo das muralhas do Castelo de Stirling. Em setembro de 1507, Damian anunciou para a corte de James IV que voaria daquele Castelo até a França. Ele fez asas com penas e saltou...

Aleister Crowley, fruto de uma rica família britânica, nasceu em 1875 e faleceu em 1947. Era habilidoso em várias áreas, mas foi com a prática da magia negra que colecionou muitos seguidores e admiradores, dentre eles músicos e escritores famosos. Ian Fleming, o criador de James Bond, propôs que Crowley se infiltrasse em agências nazistas interessadas pelo ocultismo. E possivelmente o ‘V’ de Vitória de Churchill foi aconselhado por ele. Na prática, não passou de um charlatão, um playboy metido a bruxo que viveu à custa de quem acreditava nas suas bobagens. De bom mesmo foi só ter inspirado Ozzy Osbourne, Randy Rhoads e Bob Daisley a compor Mr. Crowley, uma das melhores músicas da carreira solo do ex-Sabbath.

Um dos gurus mais famosos do século XX foi o americano Jim Jones, líder do culto 'Templo dos Povos'. Começou suas atividades pseudo religiosas em Indiana, EUA. Curiosamente, visitou, nos anos 60, minha cidade natal, Belo Horizonte, e a colocou numa lista dos locais mais seguros caso houvesse uma guerra nuclear. Em 1965, mudou-se para a Califórnia, onde o fanatismo por ele cresceu de vez e, nos anos 70, foi para a selva da Guiana, no norte da América do Sul, com seus seguidores. O congressista americano Leo Ryan liderou uma delegação para investigar abusos de direitos humanos por parte de Jones. Em 1978, Ryan e outras 4 pessoas foram assassinadas por tiros em Georgetown, capital guianense, após deixar o local da comunidade. Ampliando em escala a tragédia, Jim, em seguida, ordenou então o suicídio / assassinato em massa de 918 dos seus membros em Jonestown, Guiana, muitos deles envenenados por cianeto. O maluco então suicidou com um tiro na cabeça.

Quando penso nos mitos de nossa história que fizeram e falaram muita besteira, eu me recordo, é claro, do argentino Ernesto “Che” Guevara. Uma foto marcante de Che, tirada pelo cubano Alberto Korda, em 1960, mostra o então guerrilheiro com traços fortes, dando a impressão de um homem com cara de homem. A foto vem rodando o mundo desde então, estampando camisas e bandeiras e ilustrando muitas capas de livros.

Guevara foi um aventureiro desorientado e um assassino profissional, mas também tinha outro lado, era médico e idealista. E, como as personalidades que hoje são consideradas mitos não passam de entidades com sérios problemas mentais, ignorantes em todos os assuntos e completamente abobalhadas, para ‘homenageá-las’ só posso me recordar da figura da Mula Sem Cabeça. Personagem do folclore brasileiro, a mula, que tem fogo no lugar da cabeça, galopa através dos campos desde o por do sol de quinta-feira até o nascer do sol de sexta-feira. Ou seja, algo sem sentido, sem pé, nem... cabeça.

A maior divindade criada no século XX foi, sem dúvida alguma, o líder cubano Fidel Castro. Mas, sua figura é tão complexa que um parágrafo seria pouco para falar do fanatismo internacional em relação a ele e da ditadura militar que criou.

Como o argentino Juan Domingo Perón é também um ótimo exemplo para falar sobre divindades, eu prefiro escrever um pouco sobre ele. Tirando Evita, musical e filme de sucesso, baseado na vida da primeira esposa de Perón, Eva, a Evita (‘Don’t cry for me Argentina...’, lembram?), o alcance de Juan como Deus não ultrapassou os limites da terra de Jorge Luis Borges, mas teve (e tem) um efeito semelhante à radioatividade na população daquele país. A briga maior entre os hermanos é para saber se ele foi um político de direita ou de esquerda. No final das contas, ele foi um populistas da pior espécie. Além das suas trapalhadas e excentricidades pessoais e namoro com o fascismo, conseguiu a façanha de quebrar financeiramente a Argentina. O país tinha uma economia sólida e um alto nível cultural antes de Perón. Ele fez tantas besteiras e desatinos em seus mandatos que até hoje os argentinos tentam, sem sucesso, se recuperar. Mas Perón continua Deus. Sim, com ‘D’ maiúsculo.

Para escrever sobre os justiceiros perigosos e danosos, pensei inicialmente no inglês Matthew Hopkins, um cruel caçador de bruxas do século XVII, que atuou durante a Guerra Civil Inglesa.

Mas, como queria fazer um paralelo com personalidades oficiais da época atual, eu me lembrei de Tomás de Torquemada, inquisidor-geral dos reinos de Castela e Aragão no século XV e confessor da rainha Isabel, a Católica. É conhecido por sua campanha contra os judeus e muçulmanos convertidos. Provavelmente o número de execuções durante o mandato de Torquemada foi de 2.200 pessoas. O chefe do ‘Escritório de Perseguições e Mortes Injustas’ da Igreja Católica naqueles reinos, segundo diria meu pai, depois que morreu certamente “caiu igual a uma pedra no inferno”. E o diabo ficou com medo dele. 

Mas o que ocorreu com John Damian, o que tentou voar da Escócia até a França?
É claro que não voou nem um metro. Caiu no que os escoceses chamam de midden, tendo assim, felizmente para ele, uma queda suave. E sobreviveu.
Mas o que significa midden? 
Quer dizer um depósito de lixo. No caso, este recebia todos os detritos provenientes do castelo de Stirling.
O grande problema é esse. O charlatanismo, os desatinos e as ações perigosas dos magos, gurus, mitos, semideuses e justiceiros, que vez ou outra surgem, são cegamente apoiados por uma massa de pessoas ignorantes. E este lixo é muito difícil de reciclar.