terça-feira, 11 de outubro de 2016

Eu Quero Sair Daqui e Tocar Minha Guitarra!

A primeira foto foi tirada pelo meu pai no longínquo 19...
Mas vou caminhar um pouco no tempo.
Quando eu tinha uns 10, 12 anos, recebi o resultado do ano escolar. Mesmo com muito sufoco, eu fui aprovado. Estudar era a única coisa que fazia, e, mesmo sendo um esforço, para minha mãe e meu pai, manter meu irmão e eu em bons colégios, não retribuíamos seu sacrifício. Sempre passei de ano, mas só comecei a dar o real valor após os 15 anos.
Bem, meu pai, depois de sair comigo e fazer a matrícula do ano seguinte, estacionou em um supermercado. E eu lhe disse alguma coisa como: 'Agora eu vou ficar uns 2 meses sem me preocupar com nada'. Ele, um mestre, nada respondeu, nem olhou para mim. Ali tive uma das minhas muitas 'pequenas grandes' iluminações. Apesar de nunca ter sido rico (longe disso), vivo em um país onde a maioria das pessoas nunca chegaram perto das mesmas oportunidades que tive. Consegui agradecê-lo em vida muitas vezes. E à minha mãe sempre agradeço.
Em vários momentos, quando sentados na biblioteca centenária onde leciono, meu pai me disse: 'Eu lhes deixarei esta casa e a instrução. A casa vocês podem vender e, com o tempo, perder o dinheiro. Mas a instrução, jamais perderão. Ninguém pode tirá-la de vocês!' E até hoje, mesmo em um país em que a cultura é desvalorizada, a instrução (e a educação que minha mãe e ele me deram) já me tiraram de difíceis situações. Também aprendi com ele a ser autodidata. E isso também sempre me ajudou.
Nesta semana da criança, agradeço muito a meus pais! Agradeço também por me transmitirem a alma musical. Mas sobre isso falarei em outro dia.
O bebê que já mexia seus dedos, louco pela música, é hoje uma pessoa de muitas atividades. Uma delas, guitarrista de uma banda de Rock. Há 28 anos, desde que comecei a trabalhar, as responsabilidades só aumentam. As cobranças são muitas. Mas o medo não habita em mim, pois sou um ser biológico de zilhões de anos e já passei por bons bocados e sobrevivi a todos eles!
A semelhança com o bebê: os cabelos, que voltaram a ser louros!
Bem, felicidades aos meus amigos que conseguem manter a criança dentro de si, aos seus filhos e aos amiguinhos e amiguinhas que ainda são crianças!
P.S. A segunda foto é de Jeová Guimarães! Felicidades para você e sua família, meu caro, e obrigado pela foto!

terça-feira, 4 de outubro de 2016

O Menino de Azul


Vejo o quadro 'O Menino de Azul', pintado pelo inglês Thomas Gainsborough (1727-1788), todos os dias. Ou melhor, uma reprodução dele, que fica na sala de jantar de minha casa. É curioso o efeito hipnótico do quadro.
Para descrever como ele foi criado, peço ajuda ao meu xará, o escritor austríaco Ernst Josef Gombrich (1909 - 2001), autor do maravilhoso livro 'A História da Arte':
"É fascinante observar um artista esforçando-se por alcançar o equilíbrio adequado. Mas, se lhe perguntássemos porque fez isso e mudou aquilo, talvez ele fosse incapaz de nos explicar. O artista não obedece a regras fixas, ele simplesmente intui o caminho a seguir. É verdade que alguns artistas ou críticos, em certos períodos, tentaram formular leis para a sua arte; mas sempre se constatou que artistas medíocres não conseguiam nada quando tentavam aplicar essas leis, ao passo que os grandes artistas podiam desprezá-las e, ainda assim, conseguir uma nova espécie de harmonia em que ninguém pensara antes. Quando o grande pintor inglês Sir Joshua Reynolds explicou a seus alunos da Royal Academy que o azul não podia ser inserido no primeiro plano de uma pintura, mas reservado para fundos longínquos, para as colinas a se desvanecerem gradualmente no horizonte, seu rival Gainsborough - segundo reza a história - resolveu provar que tais regras acadêmicas eram usualmente absurdas. Pintou então o famoso 'O Menino de Azul', cujo traje azul, em primeiro plano e no centro do quadro, se destaca triunfantemente contra o cálido castanho do fundo."
Há uma frase muito importante, também de Gombrich, do mesmo livro, que completa sua explicação, podendo ser também transportada para nossa vida pessoal, nos ajudando a romper barreiras, abandonar verdades absolutas e nos oferecer a liberdade de ação:
"Todos nós alimentamos crenças que consideramos tão axiomáticas quantos os "primitivos" consideram as deles - usualmente a um ponto tal que delas nem nos conscientizamos, a menos que deparemos com gente que as questione."
Infelizmente, muitas vezes, a mente já está demasiadamente dominada e corrompida e é tarde demais.
Mas em outras tantas, felizmente, a recuperação é possível. E deve ser buscada para uma vida mais saudável.
Muita arte e inspiração para suas vidas!
Ernesto Abreu Valle