terça-feira, 4 de outubro de 2016

O Menino de Azul


Vejo o quadro 'O Menino de Azul', pintado pelo inglês Thomas Gainsborough (1727-1788), todos os dias. Ou melhor, uma reprodução dele, que fica na sala de jantar de minha casa. É curioso o efeito hipnótico do quadro.
Para descrever como ele foi criado, peço ajuda ao meu xará, o escritor austríaco Ernst Josef Gombrich (1909 - 2001), autor do maravilhoso livro 'A História da Arte':
"É fascinante observar um artista esforçando-se por alcançar o equilíbrio adequado. Mas, se lhe perguntássemos porque fez isso e mudou aquilo, talvez ele fosse incapaz de nos explicar. O artista não obedece a regras fixas, ele simplesmente intui o caminho a seguir. É verdade que alguns artistas ou críticos, em certos períodos, tentaram formular leis para a sua arte; mas sempre se constatou que artistas medíocres não conseguiam nada quando tentavam aplicar essas leis, ao passo que os grandes artistas podiam desprezá-las e, ainda assim, conseguir uma nova espécie de harmonia em que ninguém pensara antes. Quando o grande pintor inglês Sir Joshua Reynolds explicou a seus alunos da Royal Academy que o azul não podia ser inserido no primeiro plano de uma pintura, mas reservado para fundos longínquos, para as colinas a se desvanecerem gradualmente no horizonte, seu rival Gainsborough - segundo reza a história - resolveu provar que tais regras acadêmicas eram usualmente absurdas. Pintou então o famoso 'O Menino de Azul', cujo traje azul, em primeiro plano e no centro do quadro, se destaca triunfantemente contra o cálido castanho do fundo."
Há uma frase muito importante, também de Gombrich, do mesmo livro, que completa sua explicação, podendo ser também transportada para nossa vida pessoal, nos ajudando a romper barreiras, abandonar verdades absolutas e nos oferecer a liberdade de ação:
"Todos nós alimentamos crenças que consideramos tão axiomáticas quantos os "primitivos" consideram as deles - usualmente a um ponto tal que delas nem nos conscientizamos, a menos que deparemos com gente que as questione."
Infelizmente, muitas vezes, a mente já está demasiadamente dominada e corrompida e é tarde demais.
Mas em outras tantas, felizmente, a recuperação é possível. E deve ser buscada para uma vida mais saudável.
Muita arte e inspiração para suas vidas!
Ernesto Abreu Valle

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