No domingo passado, no princípio da tarde, procurando saber do andamento das manifestações contra Calheiros, Congresso e outros, recebi pela televisão a triste notícia do falecimento de Ferreira Gullar.
Pouco li sobre isso nas redes sociais. A preocupação da maioria de seus participantes é sempre uma informação rasa, selfies desnecessários, funcionários públicos se mostrando em sua segunda ou terceira viagem internacional do ano, com o dinheiro nosso, pouco trabalho e sem medo de uma reação popular contra isso. Brigas intermináveis entre radicais de 'esquerda' e 'direita', com demonstrações de pouca inteligência, rancor, desconsideração para com os mais necessitados e valorização de ideologias furadas e de pouca prática.
Morria Ferreira Gullar. Falar de sua obra é tarefa difícil. De tão honesta, profunda e bela, as palavras me faltam. O discernimento que o poeta, tradutor, cronista, crítico de arte, artista plástico, dentre outras atividades, possuía era imbatível. Sua fala e escrita não eram dualistas, o que me fazia sentir cada vez mais atraído por suas opiniões. Tanta sabedoria parecia muita dentro de um só ser.
A dita 'esquerda' se sentia traída por ele, que já não se dizia mais marxista, pois, quando morou na URSS, se impressionou com a falta de iniciativa que o regime gerava nas pessoas, e era crítico dos governos do PT. A chamada 'direita' não se encantava com ele, pois Gullar continuava com posição firme contra o liberalismo econômico, criticando com firmeza sua ação devastadora quando não é controlado pelo estado.
Então, em um país de radicais, as redes sociais não se emocionaram com a morte de Gullar.
Mas aqui vai minha homenagem. Pessoa íntegra, honesta para consigo mesma e para com todos nós, não apegada a bens materiais. Rejeitou a tal 'bolsa ditadura' com veemência, dizendo que, 'como já era bem grandinho, sabia o que estava fazendo' quando lutou contra a ditadura militar, de forma pacífica, mas sofrendo da mesma forma que os que lutaram com armas. Era o verdadeiro socialista, pois sua gentileza o levou a, por exemplo, comprar um apartamento para sua empregada com parte do dinheiro de um prêmio literário.
Alto, magro, cabelos longos e sempre indignado com a dura realidade dos mais pobres em nossa sociedade. Gullar está entre as pessoas mais inteligentes que já escutei. Infelizmente não o conheci pessoalmente. Não teria sido só para uma foto. Seria para dizer 'Muito Obrigado!'.
Editei o vídeo em anexo, onde ele explica, com sua capacidade ímpar, o duelo dualista entre capitalismo selvagem e socialismo autoritário e sua fusão na China moderna.
Foi para além do mar, mas nos deixou de presente a sua infinita capacidade de sonhar!
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