O
Poeta Ferreira Gullar sempre dizia que ‘O Poema nasce do espanto’.
Quem
me conhece pessoalmente de verdade sabe que todos os seres inanimados podem
tomar vida ao entrar em contato com meu corpo. É garrafa com água que sai
voando, gira no ar por todo o palco e cai do outro lado. É maçã que sai fora do
controle e, quando consigo pegar, no ar,
e segurá-la fortemente junto ao corpo, trinca uma costela, e por aí vai.
Eu
me esforço e controlo muito isso, até conversando com esses seres quando estou
com mais pressa: ‘fiquem aí, por favor!’
Com
celular eu tenho que tomar todo o cuidado do mundo. Mas, outro dia, a
escorregada de um dedo, causada pela deslizada do celular, fez com que eu
tivesse uma surpresa muito agradável ao, acidentalmente, fazer uma ligação para
uma linda moça com a qual estava trocando algumas mensagens sobre arte, música
e cãezinhos, as ‘figurinhas’.
Quando
estava me recuperando da trapalhada, após dizer alô, me desculpar e perguntar
como ela estava (como se eu não tivesse perguntado antes), compensando minha
leve timidez com uma boa autoestima, eu levo outro lindo golpe! Escuto uma
encantadora voz, um pouco mais grave, suave e tranquila. Apesar de ter sido
apresentado a ela uma vez, foi em um local com muito barulho e só trocamos
palavras como ‘prazer, tudo bem?’. Ela estava de saída.
Bem,
escutar aquela voz foi uma agradável surpresa. Subi no bote salva-vidas para
não gaguejar. Acho que não gaguejei. Só acho.
Recuperando-me,
logo perguntei se não teria problema conversar um pouco com ela. Nunca sei
quando posso ligar para uma pessoa, pois eu também tenho meus compromissos e ocupações
durante o dia. Há momentos que fica difícil atender uma ligação. Quando vou
para as áreas verdes da casa eu nem levo o celular. Ela gentilmente me disse
que estava tudo bem e conversamos por curtos 15 minutos que, para mim, duraram somente
uns 3 minutos. Certa vez eu vi uma explicação do Einstein sobre relatividade.
Adaptando parte do que ele falou, é algo como ‘o tempo passa rápido quando
estamos com alguém com quem queremos estar’.
Mas,
eu me apaixonaria por uma voz? Não, creio que não. A paixão é perigosa. Segundo
meu amigo Pedro, a ‘paixão é autoritária, egoísta’, temos que ter muito cuidado
com ela. Há outro amigo que certa vez se apaixonou pela voz de uma cantora.
Eles se casaram. Após alguns anos eles mal se falavam. Eu prefiro me envolver e escutar o que a voz
que me encanta tem a dizer.
Essa
linda voz que escutei é de uma pessoa profunda e verdadeira. Intensa também,
mas só para os que têm o privilégio de conhecê-la melhor. Começo a entender que
uma pessoa é profunda quando ela, por exemplo, encontra uma antiga caixa de
pincéis e tintas e fica feliz como uma criança. Também quando seus quadros têm
cores tão lindas que parecem sempre ser pintados por uma jovem talentosa e
criativa. Ou mesmo quando lê um longo texto escrito por mim e envia um pacientemente
aguardado comentário, como uma mulher que já tem muita experiência. Sem que eu
me esqueça de que um dia descubro que ela tem a sensibilidade de escutar Dave Brubeck, dentre tantas outras
coisas que, se eu escrever, ficaria aqui lembrando e lembrando.
Sempre
faço algumas analogias com a música. O registro médio do som do cello (violoncelo)
é muito suave e denso. Não vou comentar aspectos técnicos da música e do
instrumento, pois hoje prefiro contar com meu espírito de cigano. Um professor
de francês certa vez me mostrou um poema que ele escrevera sobre o cello, algo
como se uma pessoa tivesse que abraçá-lo para poder tocá-lo.
Canção
dos cisnes (Schwanengesang) é uma coleção de músicas escritas por Franz
Schubert no final de sua vida e publicada postumamente. Uma das peças mais
lindas dessa coleção é a Serenata (Ständchen), que é normalmente cantada. Mas
ficou também conhecida por duo de piano e cello. A princípio pode parecer
triste, mas não é. É uma música romântica.
Quando
lembro dessa peça, popularmente chamada de Serenata de Schubert, uma linda
história vem à minha mente. Ela foi contada pelo meu pai, que tinha muita
sensibilidade musical. Um dia ele passava na porta de uma oficina mecânica e
escutou essa música sendo executada em violoncelo. Ao entrar e ir ao encontro
do som, ele viu um mecânico sentado em frente a um por demais improvisado
instrumento, algo como um cabo de madeira enfiado em uma lata de óleo; nele
percorria uma única corda de cello, presa em cima, onde era afinada. Segundo
meu pai, o mecânico tocava lindamente a Serenata, o que o fez se emocionar.
Não
vou dar um link de uma interpretação dessa peça. Ele vai ser enviado somente
para a moça da voz, me desculpe. Procure no Youtube por ‘Franz Schubert - Ständchen
(Serenade)’.
Por
que escrevo esse texto, me abrindo tanto assim? Porque é necessário. Não sou
poeta, como Ferreira Gullar era, mas preciso escrever sobre o que me encanta. O
faço com muito respeito pela linda mulher que possui a voz tão charmosa. Ela
sabe disso. Eu deixo de lado a leve timidez e escrevo.
Dizem
que isso representa uma fraqueza etc. Eu não me preocupo. Homens têm medo de
mulheres inteligentes e talentosas. Eu não. Fico absolutamente encantado com
qualidades que podem me tornar mais feliz e estas devem ser enaltecidas.
E
o que ela poderia pensar sobre isso? Não sei, eu não tenho e nem gostaria de
ter o poder de controlar o sentimento das pessoas. Eu estou aqui no meu mundo
mágico, que é o dela também, pois nosso coração é cheio de alma.
Pergunte
ao vento. Se você me vir conversando com ele, vai entender o que é conseguir
viajar entre o mundo dos sonhos e o das coisas-como-elas-realmente-são.
Primoroso!!! Uau!
ResponderExcluir(Queria colocar figurinhas aqui, mas não tem como)
(Aplausos) (carinha com leve sorriso tímido e bochechas vermelhas) (girassol)
Muito obrigado, querida!! rsrs Você é minha inspiração!! Beijo!!
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