sábado, 28 de novembro de 2015

Muralhas de Ávila X Barragens do Fundão e de Santarém



Série: Maravilhas X Porcarias da Arquitetura e Engenharia

Caros Amigos,

Apresento hoje o 1º Capítulo da Série Maravilhas X Porcarias da Arquitetura e Engenharia.

1ª e 2ª. Fotos – Muralhas de Ávila, na Espanha, em perfeito estado de conservação. Seu perímetro é de 2.516m. Possui 88 torreões e 9 portões. Construída por ordem do Rei Alfonso VI de Castilha no final do século 11, para proteger a cidade, foi declarada com Patrimônio da Humanidade em 1985.

3ª. e 4ª. Fotos – Barragens do Fundão e de Santarém, ambas em Bento Rodrigues, Mariana, Brasil. Pelo péssimo estado de conservação e omissão dos proprietários, fiscais e governantes, mantendo-as em sua capacidade máxima de utilização, romperam na tarde de 5 de novembro de 2015. Foram construídas pela Samarco Mineração S.A. (Vale S.A. e BHP Billiton) usando técnicas primitivas para acomodar rejeitos provenientes da extração de minério de ferro. Seu objetivo foi contribuir para a manutenção da ganância e consumo excessivo dos seres humanos. O rompimento das barragens causou o maior desastre ambiental do Brasil, em toda sua história, e um dos maiores do planeta. Declarada como Porcaria da Humanidade em 2015.





quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Amargo Rio Doce – Parte 3



Prezados amigos,
Esta é a última parte do texto sobre o rompimento da barragem na região de Mariana.
Até agora, minha crítica foi direcionada ao governo, às instituições e às corporações.
Mas, apaguem todas as luzes da Vale, da Samarco ou da BHP! Fechem os edifícios! Congelem suas contas correntes e parem todas as máquinas! O que sobra? Sobram os donos, funcionários e consultores. A culpa é sempre direcionada ao ‘sistema’, como se existissem robôs que pudessem nos controlar.
Os seres humanos são os responsáveis por toda essa loucura chamada ‘desenvolvimento’. Há indústria para todos os tipos de atividade.
Para reduzirmos essa produção excessiva, quanto menos consumirmos, melhor. Devemos buscar a reutilização dos produtos e, depois, reciclarmos o que pudermos. 
Caso precise de um veículo e a pessoa tenha o dinheiro, deve comprá-lo. Mas é importante utilizá-lo com bom senso e não é preciso comprar um novo a cada dois anos, só porque tem preguiça de levar o carro até para uma troca de óleo.
Mesmo com produtos bem descartáveis hoje em dia, devemos escolher os melhores e comprá-los uma só vez. Uma mala de viagem boa pode durar muitos anos. Um carro bem cuidado pode durar muito também. Para que ter 30 calças, 80 sapatos, 100 camisas, 50 vestidos, 25 frascos de perfume, 20 ternos? Conheço adolescentes que compram, com dinheiro dos pais, 10 calças por semestre e se enfadam delas rapidamente!
Pode parecer bobagem escrever, também, que devemos cuidar de um produto e não o desprezar. É a mesma coisa que dizer que ‘leite materno é o melhor para o bebê’. Todo mundo sabe disso. Mas, com dinheiro na mão, ou não, as pessoas parecem ignorar que estão matando o meio ambiente. Compram muito e não cuidam do que compram, tendo que gastar novamente com o mesmo produto. E dizem às vezes: ‘Ah, é baratinho’.
E sobre os minérios: Já falei dos carros, mas se olhar ao seu redor, caso consiga entender que a vida é interdependente, poderá ver na sua TV, celular, computador, relógio, grafite do lápis, nos ônibus, trens de ferro (quase inexistentes no Brasil), aviões, dentre milhares de produtos, os minerais.
Quanto mais consciente for nosso consumo, menos exploração teremos. E isso serve para tudo: madeira, plástico, vidro, isopor. A lista é infindável.
Mas, mesmo chamando a atenção, nessa última parte, para nosso consumo excessivo, os responsáveis pelas mineradoras, sejam eles os proprietários ou funcionários mais graduados, e os nossos governantes e fiscais omissos tem que ser especialmente e duramente criticados por nós, pois são os responsáveis diretos por essa tragédia ambiental, uma das 3 maiores exclusivamente causadas pelo homem dentre as que me recordo em minha vida. As outras 2 foram: O desastre nuclear na Usina Nuclear de Chernobyl, na então URSS, em 1986, e a explosão da Plataforma de Petróleo Deepwater Horizon, da British Petroleum, no Golfo do México, em 2010.
É lamentável e cabe a nós mantermos uma firme posição e continuarmos a cobrança até que os irresponsáveis sofram punições realmente severas, que leis mais rigorosas sejam colocadas em prática e que criemos as condições para redução e substituição dessa atividade que, se por um lado é importante, por outro lado é extremamente nociva para nós.
Eu já ouvi falar que rio ficou poluído, foi canalizado, secou, foi desviado. Mas nunca ouvi falar que um rio, do tamanho do Rio Doce, morreu.
Já estávamos sem água e o nosso doce Rio Doce agora ficou amargo, vítima da ganância dos seres humanos.
Agradeço aos amigos pela atenção.
Ernesto de Abreu Valle

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Amargo Rio Doce - Parte 2


Caros amigos,
Retomo aqui o texto sobre o rompimento da barragem na região de Mariana.
O valor das riquezas de nosso país é um outro assunto importante.
As pessoas elogiam ou criticam governos sem saber como o capital entra e sai de um país, usando chavões como 'capital estrangeiro’, por exemplo. Como é um assunto que demanda muitos parágrafos, fica para outro texto, especificamente sobre o tema.
Mas aqui quero escrever sobre o ‘crescimento’ do Brasil nos últimos 15 ou 20 anos. Aí entra o fator ‘China’! A China, no seu ‘desenvolvimento’, começou a comprar matéria prima em grande quantidade e por muito barato. Onde buscou? Primeiramente em países em desenvolvimento, com alguma infraestrutura. Na prática, os chineses compram pelo preço que querem, com o transporte deles, usando suas próprias embalagens, desde caixotes de madeira até containers modernos. Isso, no Brasil, enriqueceu despachantes, exportadores de matéria prima, além dos que desviam dinheiro dos impostos que pagamos, é claro. Realmente beneficiou, por exemplo, empregados de mineradoras, da produção agropecuária e de empresas de comércio exterior. Com isso, aumentaram as contratações de serviços como pedreiros, eletricistas, domésticas, dentre outros. Como isso acontece? É fácil explicar: uma pessoa, que é dona de mineradora, por exemplo, contrata outras pessoas para trabalharem como seus engenheiros e funcionários, além de contratar serviços de despachantes, de câmbio etc. Esses empregados e micro e médio empresários, por sua vez, contratam outros serviços que exigem menos qualificação. Todos que se beneficiam disso investem em serviços, casas, carros, roupas, viagens, restaurantes, eletrodomésticos, gerando mais empregos.
Mas, então, onde está o problema, além da clara destruição do meio ambiente? Está na fraquíssima utilização dos recursos arrecadados com os impostos! Nos anos em que o governo (não gosto dessa palavra) ‘surfou na onda da China’, os investimentos públicos em educação, infraestrutura (lê-se principalmente transporte público), saúde e em tecnologia nacional de ponta, principalmente, foram ridículos, para não usar outras palavras. Investiu-se mais em inúteis estádios de futebol do que em qualquer outra coisa. A maioria (não todos, é claro) dos empregos gerados foram de baixa qualificação e as pessoas inseridas no mercado de trabalho foram incentivadas a comprar, para aquecer a economia, produtos dos mais diversos, como acima citei, de TVs de último modelo a carros em 1000 prestações. Agora muitos estão sem emprego e endividados, infelizmente.
Após estruturar de forma mínima os países subdesenvolvidos, principalmente africanos, a China reduziu suas compras do Brasil, o que fez com que nossos preços baixassem no mercado externo e, por isso, temos que tentar vender mais quantidade de matéria prima (e por mais barato, é claro) para compensar os investimentos. É também por esse motivo que a atividade mineradora está cada vez mais exploratória, agressiva e negligente.
Aguardem a Parte Final, sobre o consumismo e seus danos.
Ernesto Abreu Valle

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Amargo Rio Doce – Parte 1


Prezados Amigos,
O que mais falar do rompimento da barragem na região de Mariana?
Escutei as declarações de políticos, nos níveis federal e regional. Todas elas vagas! A demora em visitar o local, a omissão em responsabilizar duramente os irresponsáveis são apenas alguns pontos. E a falta de fiscalização? Muitos políticos tiveram suas campanhas eleitorais financiadas por mineradoras.
Acompanhei a mídia. Principalmente a nacional, após noticiar, se voltou rapidamente para o ataque terrorista na França, pois está sempre ávida por notícias de tragédias internacionais. Criticada, voltou a noticiar. Mas, escrevendo isso, não quero diminuir o terrível problema na Europa, que será tema de outro texto.
Um amigo chamou atenção para as atitudes que Sebastião Salgado, um dos mais respeitados fotógrafos do mundo, deveria tomar, pois este iniciou, há várias décadas, um projeto de recuperação ambiental na região. Mas o fotógrafo, dado ao discurso vazio de ‘revolução socialista’, também apresentado em seu luxuoso escritório em Paris, é patrocinado pela Vale. Então, em sua cadeia de produção (a do Sebastião), há a empresa que é a maior responsável pela degradação dos rios, afluentes e matas nativas do Vale do Rio Doce. Ele até se mobilizou, se reuniu com a presidente Dilma e apresentou propostas. Mas agora a situação é dramática e décadas serão necessárias para recuperar parte do que foi ‘cimentado’. Aguardem mais um livro do Tião e exposições mundo afora.
E dos que se beneficiam indiretamente dos serviços das mineradoras? Li coisas como ‘3.000 bocas se beneficiam desta ou daquela empresa’, que a mineração era a ‘dádiva de Itabirito’, que ‘é o negócio mais lucrativo do estado’ e outras espécies de bobagens, sempre ditas pelos defensores de seu próprio mundinho, seu ganha pão.
Ora, o que mais posso acrescentar, para não somente apresentar um texto bonitinho para ganhar algumas curtidas e comentários no Facebook?
Bem, olhar mais profundamente em relação ao problema seria a melhor opção.
Primeiramente gostaria de falar claramente sobre engenharia de construção e manutenção. Por que ainda estão de pé, dentre outras, a Torre de Londres, a Catedral de Nôtre Dame de Paris, a Torre de Belém (Portugal) e a Torre Eiffel? Porque todas essas edificações foram construídas por mestres maçons (pedreiros, em francês), ou seja, engenheiros, arquitetos, pedreiros, carpinteiros e profissionais de outras corporações, utilizando técnicas secretas passadas de mestres para discípulos. Algumas sociedades secretas de hoje, notadamente a franco maçonaria, ainda mantém, em seu próprio nome, o resquício de uma época não tão distante.
Os cursos de engenharia e arquitetura, de hoje em dia, são a continuação desta transmissão de técnica. Secreta? Por certo, pois, para conhecê-la, a pessoa tem que ser um ‘iniciado’, mesmo que isso represente passar em um vestibular e cursar a faculdade.
O que quero dizer com isso? Ora, para se construir uma barragem e mantê-la livre de quaisquer riscos de rompimento (excetuando-se casos de terremotos, furacões, maremotos etc), nos séculos XX e XXl, continua sendo uma tarefa difícil, mas não representa uma ‘aventura’ ou uma ‘tentativa’ da engenharia moderna! É tarefa feita com conhecimento, por profissionais com sólida formação em suas áreas. Não há desculpa! Exagerou-se, no caso de Bento Rodrigues, e muito, no uso da barragem. Estava em sua capacidade máxima. Nenhum ser vivo, vegetal, animal ou mineral e nenhuma máquina ou construção realizada pelo homem ou animais (castores constroem melhores barragens) pode atuar com sua capacidade máxima! O risco de estresse, AVC, infarto, fundição de motor e rompimento de estruturas é imenso.
Então Senhoras Mineradoras, a culpa é sua neste acidente. Foi negligência! Nenhum benefício adicional que a mineração pode dar à sociedade retira esta culpa. E o estado é também culpado, por suas ridículas regras de controle e por sua omissão quanto à fiscalização.
Para concluir esta parte, tenho a dizer-lhes que sim, é verdade que o estado das ‘Minas’ Gerais obtém riquezas com a mineração. Está no nome do estado e no Museu (das Minas e do Metal) mais interessante que temos. Mas riquezas para quem? Nos tempos coloniais, as riquezas eram para a Coroa. Hoje em dia, para encurtar a história, como as regras para exploração continuam pífias, sempre beneficiando as empresas, os lucros vão para seus proprietários, seus patrocinados, empregados mais qualificados e consultores, em escala decrescente de favorecimento. Há inclusive a PL 2946/2015, com a qual a porteira vai se abrir de vez.
O objetivo de quem se manifesta é extinguir a atividade mineradora? Não deveria ser, a curto prazo, é claro, pois modificaria sensivelmente a economia do estado, já fragilizada. Cerca de 80% da economia de Mariana depende da mineração, por exemplo. Mas deveria ser lentamente reduzida, com planos de substituição de atividade econômica, por outras não tão prejudiciais ao meio ambiente.
Inicialmente, enquanto a mineração for nossa principal atividade, são necessárias regras muito rigorosas sobre segurança, utilização de água, áreas e tempo de ocupação, dentre outros temas.
O texto continua. Aguardem a segunda parte. Convido os amigos para acompanhar aqui e também minha página no Facebook, https://www.facebook.com/oviajantenotempo
Ernesto Abreu Valle