Prezados Amigos,
O que mais falar do rompimento da barragem na
região de Mariana?
Escutei as declarações de políticos, nos níveis
federal e regional. Todas elas vagas! A demora em visitar o local, a omissão em
responsabilizar duramente os irresponsáveis são apenas alguns pontos. E a falta
de fiscalização? Muitos políticos tiveram suas campanhas eleitorais financiadas
por mineradoras.
Acompanhei a mídia. Principalmente a nacional,
após noticiar, se voltou rapidamente para o ataque terrorista
na França, pois está sempre ávida por notícias de tragédias internacionais. Criticada,
voltou a noticiar. Mas, escrevendo isso, não quero diminuir o terrível problema
na Europa, que será tema de outro texto.
Um amigo chamou atenção para as atitudes que
Sebastião Salgado, um dos mais respeitados fotógrafos do mundo, deveria tomar,
pois este iniciou, há várias décadas, um projeto de recuperação ambiental na
região. Mas o fotógrafo, dado ao discurso vazio de ‘revolução socialista’, também
apresentado em seu luxuoso escritório em Paris, é patrocinado pela Vale. Então,
em sua cadeia de produção (a do Sebastião), há a empresa que é a maior responsável
pela degradação dos rios, afluentes e matas nativas do Vale do Rio Doce. Ele até
se mobilizou, se reuniu com a presidente Dilma e apresentou propostas. Mas
agora a situação é dramática e décadas serão necessárias para recuperar parte
do que foi ‘cimentado’. Aguardem mais um livro do Tião e exposições mundo
afora.
E dos que se beneficiam indiretamente dos
serviços das mineradoras? Li coisas como ‘3.000 bocas se beneficiam desta ou
daquela empresa’, que a mineração era a ‘dádiva de Itabirito’, que ‘é o negócio
mais lucrativo do estado’ e outras espécies de bobagens, sempre ditas pelos defensores
de seu próprio mundinho, seu ganha pão.
Ora, o que mais posso acrescentar, para não
somente apresentar um texto bonitinho para ganhar algumas curtidas e
comentários no Facebook?
Bem, olhar mais profundamente em relação ao
problema seria a melhor opção.
Primeiramente gostaria de falar claramente
sobre engenharia de construção e manutenção. Por que ainda estão de pé, dentre
outras, a Torre de Londres, a Catedral de Nôtre Dame de Paris, a Torre de Belém
(Portugal) e a Torre Eiffel? Porque todas essas edificações foram construídas
por mestres maçons (pedreiros, em francês), ou seja, engenheiros, arquitetos,
pedreiros, carpinteiros e profissionais de outras corporações, utilizando técnicas
secretas passadas de mestres para discípulos. Algumas sociedades secretas de
hoje, notadamente a franco maçonaria, ainda mantém, em seu próprio nome, o
resquício de uma época não tão distante.
Os cursos de engenharia e arquitetura, de hoje
em dia, são a continuação desta transmissão de técnica. Secreta? Por certo,
pois, para conhecê-la, a pessoa tem que ser um ‘iniciado’, mesmo que isso
represente passar em um vestibular e cursar a faculdade.
O que quero dizer com isso? Ora, para se
construir uma barragem e mantê-la livre de quaisquer riscos de rompimento
(excetuando-se casos de terremotos, furacões, maremotos etc), nos séculos XX e
XXl, continua sendo uma tarefa difícil, mas não representa uma ‘aventura’ ou
uma ‘tentativa’ da engenharia moderna! É tarefa feita com conhecimento, por profissionais
com sólida formação em suas áreas. Não há desculpa! Exagerou-se, no caso de
Bento Rodrigues, e muito, no uso da barragem. Estava em sua capacidade máxima.
Nenhum ser vivo, vegetal, animal ou mineral e nenhuma máquina ou construção
realizada pelo homem ou animais (castores constroem melhores barragens) pode
atuar com sua capacidade máxima! O risco de estresse, AVC, infarto, fundição de
motor e rompimento de estruturas é imenso.
Então Senhoras Mineradoras, a culpa é sua neste
acidente. Foi negligência! Nenhum benefício adicional que a mineração pode dar
à sociedade retira esta culpa. E o estado é também culpado, por suas ridículas
regras de controle e por sua omissão quanto à fiscalização.
Para concluir esta parte, tenho a dizer-lhes
que sim, é verdade que o estado das ‘Minas’ Gerais obtém riquezas com a
mineração. Está no nome do estado e no Museu (das Minas e do Metal) mais
interessante que temos. Mas riquezas para quem? Nos tempos coloniais, as
riquezas eram para a Coroa. Hoje em dia, para encurtar a história, como as
regras para exploração continuam pífias, sempre beneficiando as empresas, os
lucros vão para seus proprietários, seus patrocinados, empregados mais
qualificados e consultores, em escala decrescente de favorecimento. Há
inclusive a PL 2946/2015, com a qual a porteira vai
se abrir de vez.
O objetivo de quem se
manifesta é extinguir a atividade mineradora? Não deveria ser, a curto prazo, é
claro, pois modificaria sensivelmente a economia do estado, já fragilizada. Cerca
de 80% da economia de Mariana depende da mineração, por exemplo. Mas deveria
ser lentamente reduzida, com planos de substituição de atividade econômica, por
outras não tão prejudiciais ao meio ambiente.
Inicialmente, enquanto
a mineração for nossa principal atividade, são necessárias regras muito
rigorosas sobre segurança, utilização de água, áreas e tempo de ocupação, dentre
outros temas.
Ernesto Abreu Valle