terça-feira, 17 de novembro de 2015

Amargo Rio Doce – Parte 1


Prezados Amigos,
O que mais falar do rompimento da barragem na região de Mariana?
Escutei as declarações de políticos, nos níveis federal e regional. Todas elas vagas! A demora em visitar o local, a omissão em responsabilizar duramente os irresponsáveis são apenas alguns pontos. E a falta de fiscalização? Muitos políticos tiveram suas campanhas eleitorais financiadas por mineradoras.
Acompanhei a mídia. Principalmente a nacional, após noticiar, se voltou rapidamente para o ataque terrorista na França, pois está sempre ávida por notícias de tragédias internacionais. Criticada, voltou a noticiar. Mas, escrevendo isso, não quero diminuir o terrível problema na Europa, que será tema de outro texto.
Um amigo chamou atenção para as atitudes que Sebastião Salgado, um dos mais respeitados fotógrafos do mundo, deveria tomar, pois este iniciou, há várias décadas, um projeto de recuperação ambiental na região. Mas o fotógrafo, dado ao discurso vazio de ‘revolução socialista’, também apresentado em seu luxuoso escritório em Paris, é patrocinado pela Vale. Então, em sua cadeia de produção (a do Sebastião), há a empresa que é a maior responsável pela degradação dos rios, afluentes e matas nativas do Vale do Rio Doce. Ele até se mobilizou, se reuniu com a presidente Dilma e apresentou propostas. Mas agora a situação é dramática e décadas serão necessárias para recuperar parte do que foi ‘cimentado’. Aguardem mais um livro do Tião e exposições mundo afora.
E dos que se beneficiam indiretamente dos serviços das mineradoras? Li coisas como ‘3.000 bocas se beneficiam desta ou daquela empresa’, que a mineração era a ‘dádiva de Itabirito’, que ‘é o negócio mais lucrativo do estado’ e outras espécies de bobagens, sempre ditas pelos defensores de seu próprio mundinho, seu ganha pão.
Ora, o que mais posso acrescentar, para não somente apresentar um texto bonitinho para ganhar algumas curtidas e comentários no Facebook?
Bem, olhar mais profundamente em relação ao problema seria a melhor opção.
Primeiramente gostaria de falar claramente sobre engenharia de construção e manutenção. Por que ainda estão de pé, dentre outras, a Torre de Londres, a Catedral de Nôtre Dame de Paris, a Torre de Belém (Portugal) e a Torre Eiffel? Porque todas essas edificações foram construídas por mestres maçons (pedreiros, em francês), ou seja, engenheiros, arquitetos, pedreiros, carpinteiros e profissionais de outras corporações, utilizando técnicas secretas passadas de mestres para discípulos. Algumas sociedades secretas de hoje, notadamente a franco maçonaria, ainda mantém, em seu próprio nome, o resquício de uma época não tão distante.
Os cursos de engenharia e arquitetura, de hoje em dia, são a continuação desta transmissão de técnica. Secreta? Por certo, pois, para conhecê-la, a pessoa tem que ser um ‘iniciado’, mesmo que isso represente passar em um vestibular e cursar a faculdade.
O que quero dizer com isso? Ora, para se construir uma barragem e mantê-la livre de quaisquer riscos de rompimento (excetuando-se casos de terremotos, furacões, maremotos etc), nos séculos XX e XXl, continua sendo uma tarefa difícil, mas não representa uma ‘aventura’ ou uma ‘tentativa’ da engenharia moderna! É tarefa feita com conhecimento, por profissionais com sólida formação em suas áreas. Não há desculpa! Exagerou-se, no caso de Bento Rodrigues, e muito, no uso da barragem. Estava em sua capacidade máxima. Nenhum ser vivo, vegetal, animal ou mineral e nenhuma máquina ou construção realizada pelo homem ou animais (castores constroem melhores barragens) pode atuar com sua capacidade máxima! O risco de estresse, AVC, infarto, fundição de motor e rompimento de estruturas é imenso.
Então Senhoras Mineradoras, a culpa é sua neste acidente. Foi negligência! Nenhum benefício adicional que a mineração pode dar à sociedade retira esta culpa. E o estado é também culpado, por suas ridículas regras de controle e por sua omissão quanto à fiscalização.
Para concluir esta parte, tenho a dizer-lhes que sim, é verdade que o estado das ‘Minas’ Gerais obtém riquezas com a mineração. Está no nome do estado e no Museu (das Minas e do Metal) mais interessante que temos. Mas riquezas para quem? Nos tempos coloniais, as riquezas eram para a Coroa. Hoje em dia, para encurtar a história, como as regras para exploração continuam pífias, sempre beneficiando as empresas, os lucros vão para seus proprietários, seus patrocinados, empregados mais qualificados e consultores, em escala decrescente de favorecimento. Há inclusive a PL 2946/2015, com a qual a porteira vai se abrir de vez.
O objetivo de quem se manifesta é extinguir a atividade mineradora? Não deveria ser, a curto prazo, é claro, pois modificaria sensivelmente a economia do estado, já fragilizada. Cerca de 80% da economia de Mariana depende da mineração, por exemplo. Mas deveria ser lentamente reduzida, com planos de substituição de atividade econômica, por outras não tão prejudiciais ao meio ambiente.
Inicialmente, enquanto a mineração for nossa principal atividade, são necessárias regras muito rigorosas sobre segurança, utilização de água, áreas e tempo de ocupação, dentre outros temas.
O texto continua. Aguardem a segunda parte. Convido os amigos para acompanhar aqui e também minha página no Facebook, https://www.facebook.com/oviajantenotempo
Ernesto Abreu Valle

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