O
relacionamento de entretenimento é um dos mais usuais na sociedade brasileira.
É comum alguns estrangeiros não entenderem
porque é assim que funciona no Brasil. As pessoas não param, não pisam
no freio hora nenhuma. São festas, restaurantes, casas de amigos, cinemas,
bares, botecos, viagens, shows, eventos que se sucedem em um estresse
interminável, gerando moléstias físicas e psicológicas nas pessoas.
Não
que essas coisas sejam por si só ruins. Longe disso. Gosto de todas, mas pausas
para olhar nos olhos dos seres que amamos são necessárias.
Bem,
no ano de 2006 estávamos no meio da ‘Guerra ao Terror’, desencadeada pelos
Estados Unidos após terem sido atacados pela organização fundamentalista
islâmica al-Qaeda em 2001. Os EUA haviam invadido o Afeganistão, em 2001, e o
Iraque, em 2003. Ambos ainda estavam ocupados pelas tropas americanas.
E,
no dia 16 de dezembro daquele ano, na companhia de meu irmão, Alexandre, de meu
amigo de várias jornadas musicais, Júlio, e de dois outros músicos, eu subi a
um palco muitos anos após minha última apresentação.
Voltara
à música por prescrição médica. ‘Você está estourando!’, me havia dito um amigo
cardiologista em 2002. ‘Você não tem nada, só uma leve hipertensão. Mas, caso
não retorne à música, vai adoecer de verdade!’
O
sonho de tocar novamente, muito puro em meu coração, nada tinha (e continua não
tendo) a ver com conquistar mulheres, usar drogas, beber até cair, passar
noites em claro ou esquecer problemas do dia a dia. Eu simplesmente amava (e amo)
tocar. E, portanto, seguindo orientação médica, comprei equipamentos complementares
aos que eu já tinha e formei (com os músicos acima) uma banda semi amadora.
Na
época do dito show de retorno, eu estava em um relacionamento ‘amoroso’ que ia
de ruim a péssimo e me encontrava enfraquecido pela energia que ele demandava.
Diria que eu estava ‘na capa’. Mas, na hora da apresentação, apertei o cinto da
calça, subi ao palco e liguei os equipamentos. Era um show de rock e muito
dependia de mim, pois fazia bases e solos, cantava algumas partes e, pela minha
formação em música erudita, também era o principal responsável pela direção
musical. Felizmente pensei comigo mesmo: ‘Cara, você está fazendo o que sabe e
que ama! Confie em si mesmo!’.
Tudo
deu certo na apresentação, o que gerou em mim uma energia a mais para tentar
melhorar o tal relacionamento acima citado, o amoroso, se assim posso chamá-lo.
O objetivo era evitar a outra opção, que seria buscar a porta de saída.
Bem,
pouco tempo após o citado show, não sei bem quando, eu me revoltei (de forma
educada, é claro) com a situação de excesso de entretenimento. No meio de uma
agenda lotada que me foi apresentada atabalhoadamente, eu disse à minha então
namorada: ‘Caso os Estados Unidos nos invadissem agora e tivéssemos que ficar
confinados em casa, não mais haveria festas, restaurantes, casas de amigos,
cinemas, bares, botecos, viagens, shows e eventos mil!’. E fiz a fatídica pergunta,
tema desse texto: ‘O que sobraria de você para mim e de mim para você?’
Aprendi
com a psicologia zen budista que devemos jogar luz nos problemas, como uma
lanterna forte que afasta uma fera. A moça levou um susto. Não
esperava por aquela. Ficou muda, pálida.
O relacionamento durou pouco mais que aquilo. E eu só a vi
uma vez depois de encerrado. Ela me reconheceu. Eu, não. Não sobrara nada para
mim. Eu havia dado meu amor, mas o desgaste sofrido fora avassalador.
Pois
bem, 13 anos se passaram e aqui estamos nós, os moradores humanos desse
planeta, já muito explorado, vivendo em cidades poluídas, encavalando diversões (pouco tempo atrás), consumindo de forma exagerada (ainda) e...
diante de um confinamento forçado.
Pois
bem, olhe para seu amor, seu amigo, sua amiga, seu irmão, sua irmã, enfim, as
pessoas que são próximas a você, e pergunte baixinho, para si mesmo; ‘o que
sobrou dele (a) para mim e de mim para ele (a)?’.
Pergunte
antes (e depois também) que tudo volte ao normal, sempre longe do contexto do entretenimento.
E,
o que eu gostaria de fazer após passar a pandemia, ou pelo menos após uma
suavização dela?
Claro
que voltar ao contato mais próximo com meu irmão e amigos, retomar as
atividades profissionais presenciais e quando der, aos shows. Também, no tempo
certo, porque não voltar às festas, casas de amigos, viagens, e aos cinemas,
restaurantes, botecos, bares, shows e eventos. Tudo na medida certa não
machuca.
Especialmente
quero visitar um grande amigo, Duarte, em sua casa, para um encontro muitas
vezes adiado, quando beberemos cerveja (eu quase não bebo, mas vou beber!),
assistiremos a uns DVDs e vamos rir muito! Bobagens de brothers! A famosa
Brodagem!
E
sobre o coração de leão? Dizem que ele é puro. Faço o possível para que o meu
seja. Tem a haver com a capacidade de dominar o ego, também forte em um
leonino.
Escreveu
Mário Quintana que ‘O Segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do
jardim para que elas venham até você.’
Estou
fazendo o possível para cuidar do meu jardim. É um trabalho difícil, mas
compensador. Com o tempo você conhece as folhas, as plantinhas e os insetos.
Gostaria
de convidar a mais bela flor para visitar o meu jardim. Não sei se virá. Parte
de mim tem coragem para acreditar que sim. Mas parte de mim não sabe sobre como
essas coisas funcionam aqui, pois na outra dimensão tudo é mais simples. Há
pessoas que já sofreram muito, pois um coração puro está sujeito a isso. É um
risco que corremos.
Caso
ela venha, vou pedir que me dê suas mãos e feche seus olhos. E eu lhe direi:
‘Prepare-se para nunca mais sofrer por amor!’
Fiquei muito emocionada com seu texto,você me fez chorar e refletir o que ja tenho visto há tempos .... essa futildade nos relacionamentos e esse " não olhar pro outro, que bom que pessoas como vc existem , em algum lugar exite uma borboleta e ela vai te achar ...beijos e muita Luz para você PS essE EMAIl é do meu filho , Assinado Dayse Seda
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